De linha em linha, a mulher rendeira vai dando forma a seus traçados. Entrelaça cada bilro, haste de madeira acoplada a uma semente de buriti, pacientemente, como quem borda a própria vida, sem pressa dela passar. Seguir rápido para quê? Se a vista tem mar azul e a história já provou que a memória fica, mesmo quando a morte chega para um ou para outro. Em Aquiraz é assim: o que importa mesmo é ter memória e muita aventura para contar. E olhe que, com pouco mais de 70 mil habitantes, coisas muito curiosas costumam acontecer nesta terra de 319 anos.
De nome rico em poesia, Aquiraz quer dizer “água logo adiante” em tupi-guarani. Mas ninguém da cidade esperava que, essa semana, a maré fosse subir tanto. Chegou lá em cima na vila, até a Igreja da Matriz. Depois, despejou, dentro de uma garrafa de vidro, uma miniatura de sereia. As crianças foram as primeiras a chegar perto para ver se a criatura era aquirazense. Ou aquiraense? Não importa. Todos lá gostam das duas formas. Alunos e educadores da Educação Infantil de escolas públicas, vindos de bairros com nomes divertidos: Pau Pombo, Patacas, Machuca, Gruta… Eita! A pequena sereia tem cabelos de linha! Ela deve ser lá da Prainha! E parece até que teve o rosto bordado por Dona Maria! Foi um alvoroço. Até porque, em Aquiraz, sereias não costumam sair do mar.
No meio do buruçu, surgiu, de dentro da matriz, um som que não era de sino. O acordeom tomou conta de todos os ouvidos. Como que hipnotizados, os alunos das escolas públicas foram se aproximando, ficando cada vez mais perto. Assim, descobriram todo o mistério. A sereia não veio com a maré cheia. Navegou pelo Mar Mediterrâneo, cruzou o Oceano Atlântico, veio com a companhia italiana Dromosofista, que veio com o Bonecos do Mundo. Mas como nadaram até aqui? Velejaram de jangada? Nada, menino, foi de avião mesmo! Depois de automóvel. E sabe por que aportamos na cidade? Primeiro, porque adoramos patrimônios históricos e, segundo, porque ficamos encantados por uma frase escrita em vela de jangada, bem na entrada do vilarejo, que nos tomou de supetão: “Eu amo Aquiraz”. Pensamos: se os moradores amam o seu próprio lugar, claro que vamos amar também.
Âncoras ao mar! Ops, quer dizer: parem o carro que aqui a gente desce! Descemos. De mala, violões e corações. Música, artistas e bonecos. Cadeiras expostas em frente à Matriz para um público muito especial assistir ao espetáculo “Historietas de um Abraço”. Um? Ahh… Bota muito mais abraço nisso.
Idealização e curadoria do Bonecos do Mundo: Lina Rosa Vieira (nossa diretora de criação)
Fotografia: Beto Figueiroa
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